O apego ao cargo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é algo tão doentio como o é a horda de seguidores de Jair Bolsonaro que atacam o ministro pelas redes sociais da maneira mais covarde.
Como se não bastasse, o próprio presidente corrobora com os ataques, quando não os desautoriza e ainda ironiza a situação de Mandetta dentro do governo.
“O médico não abandona o paciente, mas o paciente troca de médico”. disse Bolsonaro, mais uma vez sobre seu ministro.
Ou seja, o presidente da República e sua tropa de milicianos digitais das redes sociais estão a tratar o ministro como o indesejável, ou quem sabe “o comunista”, considerando que tudo que lhes contraria é tratado como tal.
Se não quer o ministro, demita-o. Não o exponha de forma vergonhosa, com ataques traiçoeiros à sua reputação.
Mas, Bolsonaro, pelo que se percebe, não tem mais poder para tanto. A caneta que tinha nas mãos para assinar a exoneração do auxiliar, parece que lhe foi tirada por alguém mais poderoso no Palácio.
No entanto, o pior é Mandetta assistir a tudo isso, sendo humilhado, maltratado e insistir em ficar no cargo. Por quê?
Há uma verdadeira estratégia para fazê-lo saber que não interessa mais. Há conversas vazadas entre palacianos dizendo isso. Ainda assim o sujeito insiste em ficar?
Pode convencer a uma parcela de que vai ficando por amor a saúde. Mas também deixa no ar a imagem de um narcisista que se viu inflado no espelho, graças aos holofotes da grande mídia o tratando como “um novo herói brasileiro”. – E como o brasileiro adora ter um herói.
Que viva, então, Macunaíma!
Mas, um homem com dignidade não se sujeitaria a tamanha baixaria na esfera do poder.
A conversa do ex-ministro Osmar Terra (MDB) com o ministro da Cidadania, Ônix Lorenzoni (DEM), demonstra bem a estratégia adotada por Bolsonaro e sua trupe para obrigar Mandetta a pedir demissão, já que a caneta do presidente não tem tinta para tanto.
Eis, portanto, um triste espetáculo da “nova política” brasileira.
P.S. Tirem sua conclusões com a seguinte conversa vazada pela CNN entre Osmar Terra e Lorenzoni:
Onyx: “Eu acho que esse contraponto que tu tá fazendo…”
Terra: “É complicado mexer no governo por que ele tá…”
Onyx: “Ele (Mandetta) não tem compromisso com nada que o Bolsonaro está fazendo.”
Terra: “E ele (Mandetta) se acha.”
Onyx: “Eu acho que (Bolsonaro) deveria ter arcado (com as consequências de uma demissão)…”
Terra: “O ideal era o Mandetta se adaptar ao discurso do Bolsonaro.”
Onyx: “Uma coisa como o discurso da quarentena permite tudo. Se eu estivesse na cadeira (de Bolsonaro)… O que aconteceu na reunião eu não teria segurado, eu teria cortado a cabeça dele…”
Terra: “Você viu a fala dele depois?”
Onyx: “Ali para mim foi a pá de cal. Eu já não falo com ele (Mandetta) há dois meses. Aí acho que é xadrez. Se ele sai vai acabar indo para a secretaria do Doria [João Doria, governador de São Paulo].”
Terra: “Eu ajudo, Onyx. E não precisa ser eu o ministro, tem mais gente que pode ser.”